Profecias de um cantador

Em uma dessas noites simples,
daquelas em que o céu escolhe poucas estrelas para brilhar.
Apenas um tímido pedaço da lua traçava um risco
geometricamente desproporcional ao infinito firmamento.
Poucos, ainda, perambulavam pelas ruas.
Nos lares, apenas o sono velado ao frio. Casas simples.
Ruas desaplainadas, esburacadas e, se chovesse, enlameadas.
Lá em baixo, a morada dos mortos.
Cá em cima, um bar lascivamente eufórico
com as batidas do violão de dois cantadores.
Regados à cachaça e ao prazer de cantar,
entoavam uma modinha daquelas bem emotivas,
a qual conquistava o silêncio dos presentes.
Foi quando o solo reverberante de tão tenazes vozes,
no auge de sua eloquência, fora refreado...
Era um brado! O choro de um infante
que rompia as paredes da noite e dilacerava o silêncio,
anunciando seu advento, cheio de um tudo de inquietude.
Ao arguirem-se um ao outro, os músicos
queixavam-se à dona do recinto. – Oh, Dona Maria!
Como que a senhora não nos diz que
vizinha a nós está uma mulher a dar a luz?
Ela, muito absorta à situação, replica: – Não há porque se
queixar,
meus caros artistas. Trata-se de Dona Ana, a mulher do
camarão.
Essa mulher é de fibra.
Treplicaram, então: – Mas tem nada, não.
Esse menino, ou será cantor, ou tocador ou poeta!
Isso aconteceu aos quinze dias do terceiro mês do ano de
1981. Pouco mais da meia noite. E hoje, a publicação deste livro,
faz com que se cumpram essas verossímeis e reminiscentes Profecias
de um cantador.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Um comentário:

Bodega da Biologia disse...

Grande artista da terra.... Homem de talento. Abraços